3.6.15

Ressurreição


Há 15 anos que “o Cara lá e Cima” resolveu mudar o curso da história matando a menina frágil, romântica e tola. Assim, começou escrever sua ressurreição, porém, como uma mulher forte, lúcida e determinada...

1.5.10

Filho do Tempo

Ei menino, onde você está?
Menino filho do vento
Menino filho do tempo
Que não tem hora nem lugar.

Ei menino, a onde você vai?
Não trabalhes agora
Tem um monstro lá fora
E ele quer te pegar.

Ei menino, por que você não fala?
Deite aqui no meu colo
Deixe-me te dar colo
Que eu quero te cuidar.

Ei menino, o que você faz agora?
Você é o filho do tempo
Para esse relógio
E vamos brincar.

Ei menino, olha pra mim!
Deixe-me ver nos teus olhos
Quem é esse filho do vento
E onde seu coração está.

Silvana G Melo

27.4.10

Mais uma vez me desculpe

(...) Deixe-me te dizer uma outra coisa e depois basta.
Não quero ofendê-lo. A sua consciência, como você diz. Você não quer ser questionado. Eu tinha esquecido disto, desculpe. Mas eu reconheço, reconheço que, por si mesmo, dentro de si, você não é aquele que de fora eu vejo. Não porque não quero. Eu queria que você estivesse pelo menos convencido disso. Você se conhece, se sente, se vê de uma maneira que não é a minha, mas a sua. E você acredita ainda que a sua maneira seja certa e a minha errada. Será... Não nego. Mas pode o seu jeito de ser o meu ou vice-versa?
Veja que voltamos ao início!
Eu posso crer em tudo que me dizem. É verdade. Te ofereço uma cadeira: sente-se e vejamos se chegamos a um acordo. Depois de uma boa meia horinha de conversa, nos entendemos perfeitamente.
Amanhã você retornará, com o dedo em riste, gritando:
- Mas como? O que você entendeu? Você não me disse isso e aquilo outro?
Isso e aquilo, perfeitamente. Mas o problema é que você, caro, nunca entenderá, nem eu nunca poderei te explicar como se traduz em mim aquilo que você me diz. Você não falou em turco, negativo. Usamos, eu e você, a mesma língua, as mesmas palavras. Mas que culpa temos, eu e você, se as palavras, em si, são vazias? Vazias, meu caro. E você as preenche com o seu sentido ao dizê-las a mim, e eu as recebê-las, inevitavelmente, as preencho com o meu sentido. Acreditamos de nos ter entendido, mas não nos compreendemos de fato.
Eh, esta história é velha, se sabe. E eu não pretendo dizer nada de novo, apenas torno a te perguntar:
-Mas por que então, santo Deus, você continua a fazer como se não soubesse? Falar-me de você, se você sabe que para ser para mim aquilo que você é para você mesmo e eu a você tal como sou para mim, seria necessário que eu, dentro de mim, te desse aquela mesma realidade que você dá a você e vice-versa, e isso, é possível?
Aí, caro, por mais que você fizesse, você me daria sempre uma realidade do seu jeito, mesmo acreditando de boa fé que seja o meu jeito, e será, não digo, quem sabe será, mas de um “meu jeito” que eu não conheço nem poderei nunca conhecer, o qual somente você que me vê de fora, conhece: então um “meu jeito” para você, não é um “meu jeito” para mim.
Se houvesse fora de nós, para você e para mim, se existisse uma senhora realidade minha e uma senhora realidade sua, digo, por si mesma, iguais e imutáveis. Mas não existe. Há em mim e para mim uma realidade minha, aquela que eu me dou e uma realidade sua em você e para você; aquela que você se dá, as quais não serão nunca as mesmas nem para você nem para mim.
E então? Então meu amigo, é necessário nos consolarmos com isso: que não é mais verdadeira a minha que a sua realidade e que duram apenas um momento tanto a sua como a minha.
Isso te confunde um pouco? Então assim... concluímos... (...)

Luigi Pirandello
Um, Nenhum e Cem mil, 2ºlivro – IV
(Luigi Pirandello, Uno, Nessuno e Centomila, Libro secondo – IV)

Traduzido por: Silvana G Melo

9.11.09

Não devemos nos perguntar porque...

(...) Não nos perguntamos qual o propósito dos pássaros cantarem, pois o canto é o seu prazer, uma vez que foram criados para cantar.
Igualmente, não devemos nos perguntar porque a mente humana se inquieta para desvendar os segredos dos céus...
A diversidade dos fenômenos da Natureza é tão vasta e os tesouros escondidos nos céus tão ricos, justamente para que a mente humana nunca deixe de nutrir-se (...)

- Johannes Kepler, Mysterium Cosmographicum -

23.6.09

Dá um abraço?


Ontem foi meu niver, para mim um dia normal, mas para as pessoas que pensam com os parâmetros normais da sociedade, o dia em que uma pessoa nasceu é especial.
Recebi vários telefonemas, cartões virtuais, mensagens de carinho, de afeto e reconhecimento. Devo confessar que mesmo não considerando datas de aniversário como um dia especial, mas é muito bom ser lembrado, faz bem ao ego, principalmente naqueles dias que não se está muito bem.

Estas mensagens por mais simples que foram, me emocionaram... Apesar de normalmente não transparecer, sou muito sensível e emotiva e com isso acabei passando o dia numa espécie de “céu e inferno”, recordando os bons e maus momentos com aquelas pessoas e o porque do carinho delas comigo. Pois é, entrei em crise comigo mesma, por pura comoção... Eh! Dessa vez vocês conseguiram mexer comigo... Acabei descarregando no Giu... Mas está tudo bem agora...

Hoje pela manhã, recebi uma mensagem de um aparente desconhecido no Netlog. Este postou como mensagem de aniversário parte da poesia “Dá um abraço? - de Macedo Junior”.

Caspita!!! Que mensagem linda... e certeira... Não pude deixar de buscá-la e postá-la aqui na integra.

Ao suposto desconhecido e a todos que sempre me têm guardada em um cantinho do coração, obrigado por tudo.

Paz e Luz

Segue a poesia...

Dá um abraço?

De repente deu vontade de um abraço...
Uma vontade de entrelaço, de proximidade...
de amizade... sei lá...

Talvez um aconchego amigo e meigo,
que enfatize a vida e amenize as dores...
Que fale sobre os amores,
seja afetuoso e ao mesmo tempo forte.

Deu vontade, de poder ter saudade de um abraço.
Um abraço que eternize o tempo
e preencha todo espaço...
Mas que faça lembrar do carinho,
que surge, devagarinho,
da magia da união dos corpos,
das auras... sei lá.

Lembrar do calor das mãos,
acariciando as costas a dizer: Estou aqui!

Lembrar do enlaçar dos braços,
envolventes e seguros,
afirmando: Estou com você!

Lembrar da transfusão de forças,
ou até da suavidade do momento... sei lá...

Então, pensei em como chamar esse abraço:
abraço poesia, abraço força,abraço união,
abraço suavidade, abraço consolo e compreensão,
abraço segurança e justiça, abraço verdade,
abraço cumplicidade?

Mas o que importa é a magia deste abraço!
A fusão de energias, que harmoniza,
integra o todo e se traduz no cosmos,
no tempo e no espaço...

Só sei que agora deu vontade desse abraço.
Um abraço que desate os nós,
transformando-os em envolventes laços.

Que sirva de colo,
afastando toda e qualquer angústia.
Que desperte a lágrima de alegria,
e acalme o coração...

Um abraço que traduza a amizade,
o amor e a emoção....

E para um abraço assim ,
Só consegui pensar em você!
Nessa sua energia,
nessa sua sensibilidade,
que sabe entender o por quê,
dessa minha vontade.

Pois então...
Dá logo este abraço!

Macedo Junior
www.trovadorpr.com

15.5.09

Conversando sobre provas e lições da vida

Muitas vezes, a prova de alguém não está em enfrentar grandes obstáculos. Pelo contrário, é nas coisas pequenas que grandes testes são realizados. É na média das ações e suas reações correspondentes, que se revela o jeito. As provas de paciência são cruciais e aquelas de perdão, então, nem se fala...

É na senda diária que se prova o desenvolvimento consciencial, nas lides da vida. É no trato com o mundo que surgem os conflitos, e o aprendizado da sabedoria. Realizar-se em meios espirituais é uma coisa; manter o alto nível no mundo é outra.

Competir com os outros pode ser estimulante para alguns; mas, quem ganha o que? Vencer a si mesmo é o grande lance! E rir de si mesmo, depois, é muito bom. O verdadeiro templo é o próprio coração do homem. É onde ele encontra a si mesmo. Harmonizado consigo mesmo, ele deixa de bravatas e recolhe o orgulho, rindo mais... Porém, muitas vezes, o homem chora antes disso... E lava seu espírito!

No cadinho da dor e da provação, surgem grandes transformações; e ele evolve... A roda da vida não pára.
Mas, como o homem reage às suas circunvoluções vitais?
Quando a dor surge, quem continua cantando?
E quem confia no próprio espírito?
Diante do ceticismo do mundo, quem continua firme em sua jornada de luz?
Nas alamedas do cemitério, quem é capaz de rir, ao lembrar-se que a vida segue?...
Rastejando pelo mundo, como a lagarta, quem pensa em si mesmo como borboleta?

Ah, as provas acontecem em todo lugar: dentro e fora de cada um; aqui e além e o importante não é o que acontece, mas o que se faz com o que acontece.

Espiritualidade é consciência. É atitude. É equilíbrio. Não é ter; é SER!

Quem tira lição de tudo, sabe: lamentar-se de nada adianta; vale mais compreender e quem compreende sempre se renova. Nasce e morre em si mesmo, sempre. As grandes lições estão nas pequenas coisas; paciência e perdão são grandezas. Mestre é quem vence a si mesmo. É quem ainda ri como criança...

A lagarta se tornará borboleta, assim como, um dia, o ignorante será um sábio e só o Grande Arquiteto Do Universo é que sabe o tempo certo de cada coisa.

A vida não pára... E há tanto para aprender; dentro e fora, aqui e além...

P.S.:
Esse mundo precisa de mais música legal.
Precisa de gente com fé e generosidade na jornada.
Precisa de gente corajosa, que se atreva a ser feliz.
Precisa de gente que ria mais, inclusive de si mesma.
Precisa de gente que valorize um grande amor.
Precisa de gente disposta a vencer a si mesma.
Precisa de gente capaz de perdoar, aos outros, e a si mesma.
Precisa de gente que se atreva a carregar o sol na cara.
Precisa de gente que agradeça ao Todo, só por existir...
Sim, gente boa, dentro e fora, aqui e além...

Paz e Luz.



Wagner Borges
IPPB – Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas

7.9.08

Lobos

– Mestre, preciso de sua ajuda. Eu não sei mais o que fazer.
– O que lhe parece ser o problema? Perguntou o sábio.
– Estou tendo muita dificuldade em controlar minha raiva, disse o visitante. É o jeito que as pessoas são. Eu as vejo criticando os outros enquanto estão totalmente cegos para seus próprios defeitos. Eu não quero criticá-los para não ser como eles, mas isto realmente me irrita.
– Eu compreendo, disse o sábio. Mas diga-me uma coisa primeiro. Não foi você que escapou por pouco da morte no ano passado?
– Sim, confirmou o visitante. Foi uma experiência terrível. Eu me aventurei muito longe na floresta, e fui cercado por um bando de lobos esfomeados.
– E o que você fez?
– Eu subi numa árvore quando eles estavam correndo em minha direção. Eram lobos grandes, e eu não tenho nenhuma dúvida de que me poderiam me fazer em pedaços.
– Então, você ficou preso?
– Sim. Eu sabia que não poderia ficar lá por muito tempo, sem água e sem comida, e ficava esperando que eles diminuíssem sua atenção. Quando percebia que seria seguro, eu pulava até o chão e corria como um louco até a próxima árvore, e subia de novo.
– Parece que foi uma provação muito difícil.
– Sim, durou dois dias. Eu pensei que fosse morrer. Por sorte, um grupo de caçadores se aproximou depois que eu cheguei um pouco mais perto da vila. Os lobos se espalharam e eu me salvei.
– Estou curioso sobre uma coisa, disse o sábio. Durante sua experiência, você se sentiu ofendido pelos lobos?
– Como? Ofendido?
– Sim. Você se sentiu ofendido ou insultado pelos lobos?
– Claro que não, Mestre. Este pensamento nunca me passou pela cabeça.
– Como não? Eles queriam morde-lo, não queriam? Eles queriam matá-lo, não queriam?
– Sim, mas... Isto é o que os lobos fazem! Eles estavam sendo conforme sua natureza. Seria um absurdo que eu encarasse isso como uma ofensa.
– Ótimo! Agora vamos conservar este pensamento enquanto examinamos sua pergunta. Criticar os outros enquanto permanecem cegos para os próprios defeitos é uma coisa que muitas pessoas fazem. Pode-se até dizer que é uma coisa que todos nos fazemos de vez em quando. De certa forma, é um lobo voraz que vive em cada um de nós.
Quando os lobos mostram suas presas e o ameaçam não se deve ficar parado. Você certamente deve proteger-se fugindo deles tanto quanto possível. Da mesma forma, quando as pessoas o perturbarem com críticas maldosas, você não deve aceitar isso passivamente. Você deve proteger-se, distanciando-se o quanto possível.
O aspecto crucial é que isto deve ser feito sem que se sinta ofendido ou insultado, por que essas pessoas estão apenas sendo elas mesmas. É da natureza delas serem críticas e cheia de julgamentos, de modo que seria um absurdo ficarmos ofendidos, e seria inútil ficarmos bravos.
A próxima vez que os lobos esfomeados na pele de homens correrem atrás de você, lembre-se: é o jeito que as pessoas são - exatamente como você disse assim que chegou.

Por Derek Lin
Histórias Taoístas
www.taoism.net